Por Alex
Bernardes
Eric Engelen, um
dos maiores blogueiros de luxo do mundo, esteve recentemente em São Paulo e, em
entrevista exclusiva ao Brasilturis Jornal, contou um pouco do seu trabalho e
sua opinião sobre tendências para o setor.
Engelen é belga,
mas se considera um cidadão do mundo. Poliglota, é fluente em seis idiomas,
viveu em vários países da Europa, mas foi a Grécia que fisgou seu coração e o
fez fincar raízes por 32 anos. Nesse tempo, trabalhou na maior empresa grega de
turismo de luxo, onde teve a ideia de criar seu blog. Sem grandes pretensões, o
passion4luxury se tornou uma das referências mundiais no segmento e recebe hoje
cerca de 10 milhões de visitas por ano, sendo três milhões apenas de
brasileiros.
BJ: Como surgiu a ideia do blog?
Eric Engelen: Meu blog é muito simples, lancei por hobby em
2012 e, desde então, ele foi crescendo e se tornando um dos maiores do mundo. Hoje posso dizer com orgulho que estou
entre os 10 maiores e mais importantes blogs de luxo do mundo, mesmo estando em
Blogspot. As pessoas me perguntam por que eu nao migro para o WordPress, mas eu
acho que o segredo do sucesso do passion4luxury é justamente esse, ser simples,
algo que uma pessoa comum produz com as impressões que ela mesma tem, e não de
uma empresa formal de conteúdo tentando influenciar pessoas. Hoje eu tenho, em
média, 35 mil pessoas visitando meu blog por dia.
BJ: Qual é o
conteúdo que você mais escreve e que as pessoas mais se interessam?
Hotéis, com
certeza. Hoje 80% de todo conteúdo que produzo são sobre hotéis, a maioria das
vezes cinco estrelas. As pessoas adoram conteúdo sobre destinos, passeios, restaurantes,
mas os conteúdos sobre hotéis são, de longe, os mais lidos. Acredito que,
quando o viajante de luxo sai pra fazer turismo, a primeira coisa que ele busca
é um bom hotel para se hospedar, um lugar que atenda suas expectativas na hora
de descansar da trilha, do mergulho, da visita ao museu ou qualquer que seja o
programa. Dois dias atrás eu postei uma matéria sobre um hotel de luxo de São
Paulo e já teve mais de nove mil visitas.
BJ: Você consegue
ganhar dinheiro com seu blog?
Veja, eu comecei
meu blog sem esse objetivo, eu só queria usar meu conhecimento de 32 anos nesse
negócio para facilitar a vida dos turistas de luxo e, ao final, isso se tornou
uma boa fonte de renda. Hoje eu represento mais de 400 hotéis de luxo ao redor
do mundo, e todos eles me pagam uma taxa para que eu fale deles. Recentemente
eu comecei a ganhar por reservas feitas através do meu blog também. Então, eu
posso lhe dizer que sim, hoje eu sobrevivo exclusivamente disso. Além disso, eu
sempre exijo do hotel um diferencial quando a reserva é feita pelo meu blog.
Pode ser uma garrafa de espumante, um passeio, uma massagem, um drinque,
qualquer coisa que me diferencie de outros sites de reservas.
BJ: Você consegue
detalhar de onde vem sua audiência?
Claro, primeiro
dos Estados Unidos, depois Brasil. Só do Brasil são mais de três milhões de
visitantes por ano. E, pasme, no começo o Brasil era meu número um em visitas. Depois
vem o mercado europeu e, na sequência, a Rússia. A Índia vem ganhando um bom destaque nos últimos
dois anos, por isso, em abril eu lançarei oficialmente meu blog por lá. Meus
planos agora são entrar no mercado chinês, o que é uma grande dificuldade, pois
na China não tem Google. Mas, recentemente eu conheci Tony Lee, dono do “google
chinês”, estamos negociando a possibilidade de lançarmos o passion4luxury por
lá.
BJ: No seu
conceito, o que significa luxo?
Luxo para mim é
algo que, infelizmente, nem todo mundo tem acesso e vai muito além de coisas
caras. Pra mim, luxo está no serviço e na qualidade das coisas. Há coisas que são muito caras, mas que não
são de boa qualidade, há serviços pelos quais pagamos caro, mas que não são
prestados com carinho. Então, eu posso estar no hotel mais caro do mundo e, se
eu peço uma água no restaurante e o garçom traz aquilo de má vontate, isso não
é luxo. Mas se eu estiver na padaria na avenida Paulista e pedir uma água, com
certeza o balconista vai abrir um sorriso e me trazer a água, isso é luxo.
Claro que um bom ambiente faz toda a diferença. Mas a diferença maior é que no
turismo de luxo as pessoas que consomem esses serviços caros e extraordinários
podem pagar por isso. O turismo de luxo só cresce, inclusive em anos de crise.
BJ: Quando
falamos em turismo de luxo alguns destinos vêm facilmente ao imaginário da
gente, como Grécia, Maldivas, Taiti etc. Quais os grandes desafios que você
acredita que o Brasil precisa vencer para fazer parte desse seleto grupo?
Primeiro eu acho
que o Brasil já é um destino de luxo. O país possui excelentes propriedades de
luxo, serviços qualificados e exclusivos e tudo o que envolve esse segmento.
Mas eu ainda acho que falta uma pequena atenção aos detalhes, principalmente na
comunicação. Poucos falam inglês nos hotéis de luxo, o que é básico. Tudo
começa na comunicação, a comunição é a responsavel por grandes uniões, mas a
falta dela pode gerar até guerras (risos). Essa barreira da comunicação pode
gerar uma experiência ruim e que com certeza se espalhará. O segmento de luxo,
apesar de movimentar bilhões todos os anos, é pequeno, as pessoas se conhecem e
trocam opinião sobre produtos e serviços. Tirando isso, acho que o Brasil tem
tudo para estar neste seleto grupo. O país tem praias deslumbrantes e isoladas,
o que é uma vantagem, porque o viajante de luxo adora estar inacessível. Vocês
têm hotéis lindos, uma gastronomia fabulosa, arte, cultura diferente, alegre e,
principalmente, autêntica.
BJ: Você acredita
que o turismo de luxo tem se tornado mais acessível?
Definitivamente. Temos visto um movimento de
compartilhamento muito grande mudo afora, isso ajuda a democratizar o luxo.
Hoje podemos ver mansões em praias badaladas podendo ser alugadas por
temporada, carros de luxo e até helicópteros sendo alugados com preços mais
acessíveis. O surgimento dos clubes
de produtos também tem facilitado muito a entrada de mais pessoas ao segmento
de luxo. Isso é de algo bom, você não precisa mais ser um milionário para
passar o dia em uma lancha, você pode alugá-la, passar um dia très chic pelas
praias de Angra ou no Mediterrâneo, depois é só devolver e pronto. Sem se
preocupar com impostos, manutenção etc. Isso não é uma maravilha?!
BJ: Estamos
vivendo uma onda forte do politicamente correto em que, muitas vezes, o
segmento de luxo é visto como algo supérfluo e injusto. Como você acha que o
segmento pode reverter essa visão?
Sim, esse
movimento do politicamente correto pode parecer radical, mas esse tipo de coisa
acontece para nos ajudar a melhorar. Isso está acontecendo com o
segmento de luxo e no turismo também. Por exemplo, já temos redes de hotéis que têm trabalhado para melhorar a
vida das comunidades onde elas se instalam, inclusive aqui no Brasil. Li que no
Nordeste alguns resorts têm dado aulas para os moradores da comunidade que
incluem inglês, gastronomia etc. Além de usar apenas produtos locais, o que
ajuda a economia desses vilarejos. De alguma forma, ajuda a melhorar o ambiente
do entorno. O turismo de experiência também tem ajudado nisso. Pessoas mais
afortunadas acabam convivendo com pessoas locais, mesmo que por um curto espaço
de tempo, o que possibilita a comercialização de produtos e serviços locais.
Tudo isso ajuda a girar a economia e a melhorar a vida de mais pessoas. Pode
parecer pequeno, mas já é um grande gesto.
BJ: No Brasil
existe uma rixa entre agentes de viagens e blogueiros, isso acontece em outros
países também? E como você acha que isso pode se resolver?
Sim, essa rixa é
antiga, mas no mundo de hoje não tem mais como um agente sair brigando com todo
mundo. Em todo lugar é possível fazer reservas, comprar passagem etc. Pode-se
fazer isso pelo Instagram, Facebook e outros. Mas o que eles ainda não
perceberam é que tem mercado para todo mundo. Apesar de eu ter três milhões de
visitas de brasileiros em meu blog, não quer dizer que eu vendo para toda essa
gente. Se o agente for competente e antenado, ele vai usar meu blog como
referência na hora de vender, como fonte de informação para influenciar seus
clientes e incrementar uma venda. Tem turista de alto padrão que sequer faz a
própria reserva, essa pessoa vai sempre solicitar o serviço de um agente, e por
mais que ele leia meu blog, na hora de fechar a compra, ele vai pedir isso a um
agente. Enfim, é possível o agente tirar vantagem disso tudo também se ele for
esperto.
BJ: Por último,
em sua opinião, quais serão os grandes destinos de luxo para 2018?
Definitivamente a
Grécia, que nunca sai de moda, e o Brasil. Pode parecer estranho, mas com a
economia brasileira voltando a crescer e o cenário político se ajeitando, tenho
certeza que o país terá um excelente ano no turismo, principalmente no turismo
de luxo. Ninguém vende melhor um destino do que seu próprio povo, e a gente
está vendo o brasileiro sorrir novamente, parece que a sombra do pessimismo está
passando, e os turistas estrangeiros sentem isso. Do meio de 2017 para cá tenho
ouvido o nome do Brasil voltar nas rodas de amigos estrangeiros na hora de
escolher um destino para uma viagem, e isso é um bom sinal. Algo me diz que
2018 será maravilhoso para o seu país.
Source: Brasilturis.com.br
No comments:
Post a Comment